HISTÓRIA

CIRCUITO INTERNACIONAL DE VILA REAL

O Nascimento do Circuito

Decorre a segunda década do séc. XX quando em Vila Real um grupo de entusiastas de automóveis organiza algumas gincanas, pequenas perícias de automóveis, concursos de elegância e feiras de automóveis, que imediatamente começam a atrair a atenção e entusiasmo do público, que denota uma clara e estreita afinidade com estas matérias.

Em 1931, num ato pioneiro, tem lugar a primeira edição do Circuito Automóvel de Vila Real, a 15 de Junho, levado a cabo pela mesma comissão de pessoas que organiza as Festas da Cidade e muito graças ao empenho que algumas personalidades locais, entre as quais Aureliano Barrigas, colocam neste evento. Como a ideia já vinha sendo pensada desde antes, a partir de 1930 é lançado em Vila Real um imposto sobre cada quilo de carne de forma a angariar algum dinheiro para fazer face aos custos que a organização das provas implicava. Assim, e contando também com o apoio da Secção Regional do Norte do Automóvel Clube de Portugal, em 1931 ganha corpo o primeiro “Circuito Automóvel de Vila Real”. Com uma extensão total de 7.150 metros, os concorrentes teriam de cumprir 20 voltas, o que perfazia um total de 143 quilómetros.

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Para as verificações técnicas, o “parque” tinha lugar no Jardim da Carreira.

A partida seria feita à moda de “Brooklands”, em que os pilotos estavam alinhados de um lado da zona da meta, e tinham que correr para os carros que estavam estacionados a trabalhar do outro lado, e então, partir.

Nesta altura, um dos grandes problemas do circuito era o pó causado pelo piso de terra batida, com os problemas de visibilidade inerentes…

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Gaspar Sameiro – Foto de Biblioteca de Arte/Art Library – Fundação Calouste Gulbenkian (https://www.flickr.com/photos/biblarte/), Fotógrafo: Estúdio Horácio Novais

“Estou contente, pois fiz a corrida sem me sujar de poeira; fechei as janelas do cabriolet, carreguei no acelerador… e cheguei primeiro. Era tudo quanto desejava, sobretudo… Não apanhar muita poeira.”
Declarações de Gaspar Sameiro a “O Volante”.

No ano seguinte, em 1932, alinham 8 participantes, e em 1936, depois de as sucessivas edições conhecerem um incremento do número de participantes e cada vez maior número de público a ocorrer a Vila Real (excetuando o ano de 1935, em que não se realizaram Corridas), vem a internacionalização, com a participação de pilotos estrangeiros, bem como a pavimentação de todo o traçado em alcatrão. São os anos em que brilham os Bugatti 35 C/ 51, os Alfa Romeo 6C e 8C e os Ford V8, entre outros. De destacar que é em 1936 que o cineasta Manoel de Oliveira corre em Vila Real com um BMW315.

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1936 Adler – Foto arquivo ACP

Com a Segunda Guerra Mundial, as provas automóveis são interrompidas em Vila Real e por todo o mundo, e só regressam à capital transmontana em 1949. Em 1950 a ponte metálica sobre o rio Corgo entra em obras, mas em alternativa a prova passa pela ponte e bairro de Santa Margarida, que recebeu para este propósito um piso de areia compactada. No ano seguinte, com as intervenções na ponte terminadas, o Circuito volta ao seu traçado original, recebendo a 7ª edição do “Circuito Motociclista de Vila Real”.

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Foto Museu do Som e da Imagem – Vila Real

No final da década de 50, Vila Real recebe grandes nomes do Automobilismo internacional, como Nicha Cabral, David Piper, Sir Stirling Moss e Maria Teresa de Filippis, que deixam o público ao rubro com a sua prestação e das respetivas máquinas.

No entanto a Cidade teria de esperar oito anos para voltar a ouvir motores a devorar a pista…

Após este interregno, em 1966 a adrenalina regressa a Vila Real, com os Turismos e Fórmulas a serem os reis das Corridas, e a velocidade média a ser colocada na fasquia dos 152.570 kms/h. O ano seguinte reserva algumas surpresas: por exemplo, é a primeira vez que aparecem a competir em Vila Real os famosos Porsche preparados na Garagem Aurora (Porto), e em que Michael Grace De’ Udy se mostra com o diabólico Lola T 70 MK III, cuja superioridade guinda o piloto a uma mais do que óbvia vitória na categoria de Sport e Sport Protótipos. No entanto, o corolário do programa são as Corridas de Fórmula 3, em que a nível de participação portuguesa se destaca Carlos Gaspar (ainda hoje detentor do recorde de velocidade do Circuito: 178,171kms/h).

1968 é um ano de êxtase em Vila Real: as Corridas correm no ADN dos Vila Realenses, que, orgulhosos, tudo fazem para proporcionar a melhor estada possível aos pilotos e forasteiros que chegam à capital Transmontana. É neste ano que se introduzem algumas melhorias na pista: as boxes são deslocalizadas cerca de 300m para a frente, são colocados novos rails, e é construída uma grande bancada na zona das boxes, que alberga mais de mil pessoas. Na sua classe, Mike De’ Udy volta a dar cartas com o seu Lola T70 ainda mais aperfeiçoado, a par com David Piper e o seu Ferrari 330 P3/4, com quem protagoniza um delicioso duelo. Destaque ainda para quatro Chevron, que se estreiam nos circuitos portugueses este ano em Vila Real.

Em 1969 é organizada uma corrida de resistência para a classe de Sport, que consegue o feito de 28 inscritos: as “Seis horas de Vila Real”, em que o Lola T70 de Mike De’ Udy, o Porsche 908 de David Piper e o Ford GT 40 de Carlos Gaspar, fazem uma das mais belas linhas da frente sempre! É, também, neste ano, que a Comissão Desportiva Nacional institui a categoria de “Turismo de Série”, que reúne um grande número de participantes e que é liderada pelo Alfa Romeo 1750 de António Peixinho.

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1969 Partida  (foto coleção – João Lacerda)

Entretanto, em 1970, a categoria de Sport é a que assume maior protagonismo, quanto mais não seja, pelo aparatoso acidente e consequente incêndio do Lola T210 de Alain de Cadenet, pouco antes da ponte da Timpeira.

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Capa do Jornal “Motor”

Estamos em plena época de ouro do Circuito de Vila Real, em que, nas edições de 71, 72 e 73 as provas que decorrem trazem a Vila Real dezenas de pilotos estrangeiros, vivendo-se um espírito altamente competitivo, com grandes carros e duelos em pista, que levam a multidão Vila-realense ao êxtase. 1973 é o ano em que há vários portugueses a vencer em todas as categorias. Porém, a crise do petróleo que se vive leva a que o Governo proíba as competições automóveis, facto que, com a revolução de 1974, e outros factores de “modernidade” leva a que apenas se retomem as provas em Vila Real em 1979. Porém, não mais com o brilho e magia dos anos de ouro…

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1971 (coleção – José de Uriarte)

Entre 2007 e 2010 voltam a fazer-se novas tentativas de ressuscitar o Circuito, desta feita com novo traçado, mas a má conjuntura económica portuguesa dita o insucesso.

No  ano de 2014 é fundada a A.P.C.I.V.R. (Associação Promotora do Circuito Internacional de Vila Real), e é com esta equipa de trabalho, em parceria com o Município de Vila Real e o Clube Automóvel de Vila Real que se pretende marcar o regresso das Corridas à capital Transmontana.

Vila Real é, de longe, a cidade portuguesa, com maior mística e tradição ligadas ao Desporto Automóvel. Convidamo-lo a ser parte dessa mesma magia e a vir sentir o calor humano que nos dias 21 e 22 de Junho tomará as ruas da cidade.

Sinta-se em casa, é nosso convidado!

 

Fontes:
GUERRA, Carlos, Circuito de Vila Real 1931-1973, Edições Vintage, Lda., 2004.
• http://sportscarportugal.com.sapo.pt